”O momento mais belo da minha vida” ou “O momento mais terrível da minha vida”
A escolha é tua.
Estou a ler de novo o meu livro “Regressar a Casa – um cancro, um percurso de cura”.
Acordei cedo e acabei de ler o Capítulo 4: “O momento mais belo da minha vida”.
Descobri a beleza e o significado profundo deste capítulo. Passou a ser o mais belo…
Que exemplo de tudo… coragem acima de tudo, mas de tantas coisas: da amizade (abraço e apoio do Dr. Tony), da dádiva de ter família (presença de irmãos e cunhados), da sabedoria ancestral do Tiago quando diz “então agora vais arranjar me o cão que eu queria”, da sabedoria e serenidade do Carlos que só me ouviu e foi capaz de estar apenas presente para mim e teve a força para guardar para ele a dor que sentia e não a manifestar, para não me fazer sofrer, optando assim por carregar nos seus ombros grande parte da minha dor…
E podia continuar…
Ao ler o capítulo vinham-me flashes dos problemas do mundo, do coronavirus, dos problemas pessoais de tantos amigos e familiares, etc….
E percebi que este capítulo é um manual para os estados profundos de pânico, medo, depressão… em que as pessoas entram num estado de desespero e se perdem, por não terem capacidade de lidar com a avalanche de sentimentos e emoções que surgem nesse tipo de momentos…
Pois a receita é simples: se optarmos pela coragem, amor, e não nos deixarmos vencer pelo medo… no fundo, ter coragem para “fazer o que é para fazer”… sim, se tivermos a coragem de simplesmente “não fugir”, “não virar as costas àquilo que parece que nos vai matar”, se tivermos essa coragem e deixarmos o medo estar lá, mas não lhe dar ouvidos, não o deixar dominar as nossas ações…
Se tivermos esse rasgo de coragem…
A vida vai trazer-nos alguém que dirá aquela frase que te tira da situação, aquela frase que te salva, aquele abraço, aquele milagre que transforma o “momento mais traumático, mais caótico”, no “momento mais belo da vida de alguém”…
E mais tarde, talvez esse momento também passe a ser um dos “teus momentos mais belos”…
E a vida continua… e porque não? Arranjar um novo companheiro para a vida? Porque não um novo cão? Um amigo incondicional…. que te faz perceber que, se alguém sai da tua vida por qualquer razão (morte, separação, viagem para fora, etc.), talvez uma boa opção à vitimização, ao queixume, à revolta com a Vida, à sensação de que nada nos corre bem, à crítica, ao julgamento, seja ter o rasgo de fazer-se à vida e arranjar um “cão” para companhia…
E percebi hoje porque é que naquela altura da doença da esposa, fomos capazes de momentos destes: porque não havia tempo para dar ouvidos à mente, não havia tempo de pensar fugir, ou queixar, ou projectar as nossas dores e revoltas para os outros; só lá estávamos nós e os nossos desafios, mais nada. E nessas situações, não é muito fácil fugir, embora seja possível…